terça-feira, 21 de agosto de 2007

Sobre a separação

O que te escrevo, acaba aqui.
Os meus passos continuam em outras ruas, pela cidade.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Denúncia

O que eu escrevo, prestem bastante atenção, não pertence a mim. É tudo invenção de um ser que por vezes se apossa do meu corpo, sobretudo das minhas mãos, e escreve as mais diversas insanidades. Sim. Porque ele, assim como tantos outros fantasmas poetas, não sente piedade do que as pessoas vão achar ao ler o texto assinado por mim. Mas, vejam bem, ele assina por mim: Tiago Nascimento. Ele usa o meu nome pra fazer propaganda dos seus sentimentos, dos sentimentos dos outros e do que ainda não foi descoberto como sentimento. Esse ser que se apossa das minhas mãos não tem nome, muito menos idade. Ele usa o meu nome, a minha idade, mas é tudo uma farsa. Não acreditem nele, por favor! Essa criatura é tão mais forte do que eu, que até já me pôs como personagem de diversos textos. Cafajeste!

domingo, 19 de agosto de 2007

Cartas para ninguém

É com um profundo encantamento com um ser, que te escrevo esta carta. Sabes muito bem, como ninguém, o quanto acho detestável escrever. Não me dou bem com as palavras, ou elas que são grandes demais pra mim, ou eu que sou complexo demais pra elas. Não sei.
Deveria começar esta carta contando como têm sido os meus dias, mas prefiro começar por esta noite, já que escreverei uma carta diferente e tu, a quem escolhi sem ter muitas opções, serás cobaia da minha nova invenção.





Continua amanhã...

sábado, 18 de agosto de 2007

Sobre a vontade

Vem
Mas vem sem cautela
Sem pudor
Vem sem pensar
Entrega-te e só.

Sobre a escrita

Escrever, escrever, escrever: eis o meu lema. Só não me pergunte o porquê de tudo isso, eu jamais saberia responder. Acho que, no fundo, ninguém sabe. A gente só entende depois que está tudo penetrado na alma dos outros. Se é que entende...

O retorno dos poemas

Imagem reproduzida por Day
É pra te alcançar,

Tentar te entender,

Te proteger,

Não, te proteger não,

Porque te conheci no risco,

E assim te quero,

No risco do dia,

Do instante,

O risco de ser,

Tão clara, tão doce,

Que até doeu,

Bateu, ficou,

Não quer mais largar.

É que até o sentimento que carregas é livre,

É tão solto, tão sem necessidade de proteção,

Que nem eu, que sou tão vulnerável, consigo me prender a ti.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Metamorfoses de Zé



A limpeza tinha de ser feita dentro de si, por isso não adiantava tirar a poeira dos móveis, forrar a cama, arrumar os livros, pintar as quatro paredes do quarto. A reforma precisava ser do peito pra fora. Por isso, ele guardara todas as vassouras, escondia atrás da porta, de alguma porta, não importava qual. Por isso, ele fechava bem os olhos na tentativa de guardar tudo o que um dia lhe fizera feliz. E abrindo os olhos, ele jogava fora, no vento, deixando a chuva levar pra longe, todas as lembranças ruins, os gritos calados, o choro abafado, o abraço partido, a saudade sufocante. Ele queria, precisava muito, ser feliz! Queria poder, como sempre sonhou, oferecer mais abraços, mais sorrisos, mais candura. Mas pra isso, como já descoberto, ele precisava fazer uma faxina geral em si mesmo, pra um dia, quem sabe, transformar-se na pessoa tão inesquecível que ele sonhara ser.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Tarsila de Diego


Trocaram olhares, sorrisos e abraços. Depois, vieram as inquietações no peito. Eram as borboletas anunciando o desabrochar de um novo sentimento. Então, fez-se jardim onde só havia solidão. Fez-se amor onde só havia desilusão. Fez-se poesia.

Pensamentos de Samuel


Quando as pessoas são pequenininhas assim, do tamanho do começo do crescimento humano, é tudo muito mais simples, dizem os adultos, né?! Mainha e painho vivem rindo da minha cara, porque dizem que eu sou muito serelepe e palhaço. Ora essa, por que será que os adultos sentem tanto medo de serem como eu, que falo o que quero, na frente de quem for? Crianças como eu não alimentam falsidades...iiixeee, eu só inventaria uma mentirinha de nada, de nada mesmo, se fosse pra conseguir um potão enorme de sorvete. Ah, mas isso é beleza de criança, vem tudo escrito no manual da gente, né, mainha?!

Sobre a fome

Depois que como, sempre bate certo desespero. Às vezes eu penso que a minha mente e o meu corpo vivem um desequilíbrio profundo na tentativa de saciar alguma fome, que, de fato, não é de comida. Eu acho mesmo é que eu tenho fome de esperança.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Sobre a boa sorte

A sorte é a esperança dos que por vezes já perderam a esperança de nunca precisar da sorte. Então, como dizia o menino sem dente e cabelo ruim, a boa sorte é a sorte que chega antes da esperança acabar.

Sobre Gabi


Ao seu redor, as borboletas voam como quem avisa que a leveza vai chegar

Os pássaros pousam nos postes cantando a liberdade que ela carrega nos olhos

Nesses olhos que tanto têm a dizer

Ninguém sabe definir

Ninguém sabe limitar

Quando ela sorri, a lua fica cheia

As ruas ficam mais largas pra que sempre caiba mais um pra desmaiar em versos diante do seu sorriso

Ela é assim, como nem sim nem não

Como nem sol nem lua

Ela cria seu próprio tempo e espaço

E inventa piada diante do perigo

Ela é a maturidade em seu melhor estágio

E a pureza que nunca vai se acabar

Então, as borboletas anunciam felizes da vida que Gabi está chegando, pra que os poetas se inspirem e escrevam os mais belos poemas

Sobre quem se apaixona

Ele acreditava em sonhos, por isso fechava bem os olhos pra sonhar acordado. Um dia, pensando que sonhava, beijou a tua mão. Não, não era sonho, era a realidade transfigurada em poesia, ao avesso do encontro casual, assim, como quem se apaixona.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Sobre a saudade

Saudade é como andar pra frente com os olhos fixados no agora que passou. É na seqüência de instantes que a saudade se mantém.

Sobre o abraço que darei em Ana

...e quando você olhar pra mim, vai sentir o meu abraço apertado, assim, como quem não quer mais largar. E por não poder te abraçar neste instante-já é que estou juntando um montão de sorrisos pra te mandar pelo pássaro mais bonito que pousar na minha janela.

Sobre uma nova amizade

Estufam-se os peitos, abrem-se bem os olhos, permite-se que as borboletas e os pardais invadam a alma. Depois, quando tudo estiver quase conquistado, libera-se o maior abraço do mundo, assim mesmo, sem pensar demais.

Sobre a frieza

É quando o sentimento é reprimido até o ponto de não conseguir se assumir. Então, esfriam-se os poros, abaixa-se a cabeça e finge-se que nada aconteceu.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Maria Antonieta

O mundo vai passando pela janela dela, mas ela nem sequer deixa o vento entrar, o sopro de vida que lhe falta.

Sobre o amor

Então, sem entender muito o que acontecia, ela perguntou-lhe:
- Por que você é assim, sempre vive tão intensamente os amores dos outros, mas sempre esquece de fazer nascer o seu?

Ele, abaixando a cabeça, com os olhos fixados no buraco que se abria embaixo dos seus pés, respondeu:
- É que certas pessoas nascem com capacidade para certas coisas, outras não. É isso, eu não nasci com essa capacidade, de fazer nascer o meu próprio amor, de amar o meu próprio amor, esse sentimento que fere, arranca sangue, mas que no final faz centenas de borboletas dançarem no peito. As minhas borboletas dançam em outros corações.

Você tem medo de amar? Perguntou ela:

- Eu tenho medo é de perder a esperança de um dia amar. O amor sufoca, a esperança alimenta a vida.
Disse ele, com os olhos brilhando muito, como se houvesse lembrado que um dia já tivera amado alguém. Com o mesmo brilho nos olhos, ele continuou:
- Mas não pense que sou um fracassado, não, é só uma falta de vocação. Pois da mesma maneira, há pessoas que não nasceram para certas coisas para as quais eu nasci. Há pessoas que não sabem abraçar. E a minha capacidade está em um dos verbos mais vitais. Eu nasci para abraçar.
Porque eu também já desisti várias vezes de ser eu mesmo. E o que mais me chamou a atenção foi que o mundo continuou sendo o mesmo mundo de sempre e as pessoas continuavam a me chamar pelo mesmo nome. Então, eu decidi, mesmo tarde, que não adianta tentar ser alguém diferente da minha natureza. O que importa é dar a cara à tapa e correr o risco de, ao invés de tapas, receber sorrisos.